Turquia insiste <br>em purga e guerra

O conselho nacional de segurança turco prolongou o estado de emergência instaurado por três meses no país após a tentativa de golpe de Estado do passado dia 15 de Julho. O órgão, liderado pelo presidente Recep Tayyip Erdogan, justifica a decisão com a necessidade de «garantir eficazmente a protecção da nossa democracia, do Estado de direito, bem como os direitos e as liberdades dos nossos cidadãos».

O conselho não esclarece por quanto tempo renovou o regime de excepção, facto que contradiz desde logo o alegado intuito de proteger as liberdades, o regime baseado na lei e os cidadãos. A acrescer às preocupações, o presidente afirmou, um dia depois do decreto, que «talvez 12 meses [de estado de emergência] não sejam suficientes».

Erdogan e o governante Partido da Justiça e do Desenvolvimento estão a usar a tentativa de golpe de Estado para reprimir fortemente os apoiantes do pregador Fethullah Gullen, que o presidente acusa há anos de o pretender derrubar, assim como as forças democráticas e progressistas.

As autoridades de Ancara admitiram que desde Julho foram já inquiridas 70 mil pessoas e detidas 32 mil. A imprensa turca adianta que o governo, depois de ordenar a libertação de milhares de presos comuns para enviar para os cárceres os presos políticos, pretende construir 174 novos estabelecimentos prisionais.

Os jornalistas são um alvo privilegiado, com quase 120 detidos e mais de 2700 despedidos.

 Imperialismo apoia

Só durante o mês de Setembro, o governo turco ordenou a substituição de 28 presidentes de Câmara, a maioria dos quais (24) eleitos nas listas do Partido Democrático do Povo, de esquerda pró-curdo, e cortou a Internet em 15 províncias de maioria ou com forte presença da comunidade curda. No mesmo período, o governo de Erdogan decidiu impedir a visita ao país do relator especial da ONU para a tortura, argumentando estar «demasiado ocupado».

Simultaneamente, o parlamento turco aprovou, dia 1 de Outubro, a continuação da intervenção militar no Iraque e na Síria até Outubro de 2017.

A pretexto do combate ao Estado Islâmico e aos grupos armados islamitas que têm prolongado a guerra na Síria, os quais a Turquia, comprovadamente, tem ajudado a manter em acção, os militares turcos desenvolvem, oficialmente desde 24 de Agosto, uma ofensiva contra as milícias curdas, as maiores responsáveis, juntamente com as forças armadas russas e sírias, pelas derrotas e recuos dos bandos terroristas na Síria.

Numa operação de charme junto de jornalistas de Portugal, Espanha, Itália e Grécia, convidados a deslocarem-se ao país por estes dias, as autoridades turcas insistiram numa transição política síria sem Bachar al-Assad, defenderam que o acordo para cessar-fogo entre Rússia e EUA está ultrapassado, e revelaram que apostam que a manutenção da Rússia no conflito pode provocar desestabilização interna naquele país, obrigando consequentemente à sua retirada da região.

Purga e guerra enquanto expressões da fascização da Turquia não preocupam a NATO. Ainda no início do mês, o secretário-geral Jens Stoltenberg considerou que o golpe de Estado de Julho foi «uma tentativa de debilitar a democracia». Sobre o abafamento das liberdades e a repressão nada disse, manifestando, aliás, «a certeza de que a Turquia manterá os seus compromissos com o império da lei e dos valores democráticos».

Stoltenberg vincou também o apoio da NATO à campanha turca na Síria e no Iraque e de militarização do Mar Egeu visando impedir a chegada de imigrantes à Europa.

 



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